No início da década de 90 houve um movimento para adotar a regionalização como cura para o centralismo que provocou a produção de vários documentos, uns pró outros contra, e que acabou num referendo que a chumbou, porque de facto o que era e é essencial é a gestão praticada pelos nossos Órgãos de Soberania ser eficiente ou por outras palavras ser inclusiva e pró-ativa como aconteceu nas duas primeiras dinastias, e a regionalização não era solução pois é apenas um ato parcial entre os muitos outros atos que constituem a gestão eficiente e portanto não resolve os muitos problemas que existem em Portugal e que tarda serem tratados de forma eficaz. A propósito disto será interessante realçar a importância de se analisar a gestão praticada pelos nossos Autarcas pois se há queixas do centralismo a verdadeira questão é na verdade a baixa qualidade das decisões do Poder central, fenómeno este que também se verifica em muitas decisões tomadas nas Autarquias principalmente no que respeita a projetos imobiliários e a questões ligadas à sustentabilidade e à educação. Convém recordar que a educação dos cidadãos é constituída pelas informações que o individuo vai recebendo ao longo da vida primeiro dos Pais, depois do lugar onde vive, da Escola (onde aliás é onde está menos tempo mas com grande intensidade) , e sempre de todo o contexto em que vai estando inserido com uma referência especial para os exemplos dados principalmente por quem se tem admiração. Ora o que se passa no lugar onde se vive depende quase totalmente da respetiva Autarquia como são os projetos dos prédios bem como dos bairros e parte dos serviços locais sejam estes privados, estatais ou municipais. Em Portugal há 305 Municípios e a maioria deles não tem dimensão suficiente para suportar um quadro técnico que lhes permita atingir a eficiência de gestão desejável, donde poder este facto justificar uma regionalização ou mais precisamente o agrupamento de vários Municípios, o que aliás já existe com os Distritos, e assim bastará concentrar em cada um deles os serviços especializados para os seus Municípios sem ser preciso falar-se de regionalização, que significa criar Regiões como acontece em alguns países mas em que cada uma delas tem dimensão próxima do nosso País todo. Porque o que é essencial é termos serviços eficientes e bem dimensionados e não ir atrás de soluções que pouco ou nada têm a ver connosco embora pareçam estar na moda.
Têm aparecido na comunicação social vários reparos quanto à participação em cargos públicos de familiares de ocupantes de lugares de relevo na Administração Pública, não por serem incompetentes, mas porque são familiares. Por outro lado sempre que alguém toma posse de um cargo público compromete-se a ser leal mas nada se diz sobre ser eficiente. Portanto parece poder ser incorreto ser da família de alguém importante, ser leal é o mais importante e não tem qualquer importância a falta de eficiência. E dada esta situação ser muita antiga, provavelmente desde 1496, como é possível ainda haver quem não entenda por que razão já temos tantos problemas, e vamos ter mais, por resolver na gestão do nosso País? Lisboa, 26 de março de 2019 José Carlos Gonçalves Viana
O custo do que não se fez Tudo o que se faz tem um custo que no caso de ser um bem público deve ser conhecido como é normal quando há transparência. Mas curiosamente não parece ser corrente conhecer-se o custo do que não se fez o que acarreta o enorme inconveniente de não contribuir para a correção de erros cometidos e assim perpetuar as consequências negativos desses erros. Isto vem a propósito de dois factos a saber: o desprezo que tem existido quanto ao aproveitamento económico da náutica de recreio e o facto de ainda não se ter aproveitado o potencial referente a investimentos nesta atividade que se deveriam ter realizado quando há mais de vinte anos foram apresentados esses projetos. Antes de apresentar valores quero esclarecer que a responsabilidade por estes custos deve ser atribuída não só às Autarquias e aos Governantes das pastas respetivas mas também aos potenciais investidores privados e à Comunicação Social que primaram pela ausência de iniciativa, de resiliência e de eficiência. Para se ter uma ordem de grandeza destes custos não é preciso realizar estudos económicos tão complicados como é costume aparecerem nos planos que normalmente não são cumpridos e portanto vamos simplificar: imaginemos que se criariam cem postos de trabalho que valeriam 10 000 euros anuais cada ou seja 1 milhão por ano e assim ao fim de vinte anos teremos 20 milhões perdidos! E isto tendo como base pouco mais do salário mínimo e apenas 100 postos de trabalho quando na realidade não só são mais elevados como há mais receitas perdidas além dos salários. Quem se der ao trabalho de fazer um levantamento de projetos pensados mas não realizados vai chegar a algumas centenas de milhões de euros que temos perdido e o mais grave é, se não se ultrapassar esta “distração”, vamos continuar a perdê-los o que constitui mais do que um erro mas um crime porque temos muitos desempregados cá e deslocados fora. Lisboa, 22 de março de 2019 José Carlos Gonçalves Viana
1º Governar é gerir e a gestão eficiente significa estabelecer objetivos, realizá-los e numa democracia ser avaliado pelos eleitores e assim ser reeleito ou não. Ora a gestão implica analisar o passado recente e conjugar o futuro desejado que pode depender de nós com o futuro que não depende de nós e, conhecendo bem a nossa realidade, tomar as decisões que otimizem a nossa vida atual e a nossa sobrevivência. Algumas dessas decisões referem-se a períodos mais alongados que um ano e, portanto, é indispensável a existência de um plano de atuação concreto, i.e. sem enunciados de intenções, como acontece neste OGE, mas só com projetos bem especificados e orçamentados. 2º As folhas relativas ao Mar são o exemplo do que atrás se criticou mas com a gravidade acrescentada de neste orçamento só se indicarem intenções e não haver qualquer concretização devidamente orçamentada. Além do erro sistemático em os interessados no Mar não entenderem que, para se tirar proveito dele, tem que se começar por ter uma Marinha (Armada e Marinhas de Comércio, Pescas e Recreio) eficiente. Sem ela o Mar pouco mais é que paisagem, sem esquecer as salinas e o surf… E já agora sugerir acrescentar ao compromisso dos Governantes quando tomam posse a palavra eficiência. Lisboa, 22 de outubro de 2018 José Carlos Gonçalves Viana
Um dos fatores que mais pesa quando se quer avaliar a importância de uma revolução é analisar o que aconteceria se dos pontos de vista nacional e internacional o resultado dela fosse exatamente o contrário do que foi.
Em Portugal atualmente comemoramos três revoluções: 1 de dezembro de 1640, 5 de outubro de 1910 e 25 de abril de 1974.
Em 1640 se não tivéssemos recuperado a independência Portugal teria ficado a ser apenas uma região espanhola, a língua portuguesa teria diminuído ou até quase desaparecido e internacionalmente a Espanha ganharia poder em relação a França e Inglaterra com quem estava então em guerra.
Em 1910 a mudança de monarquia para república não teve consequências importantes do ponto de vista internacional e a gestão do nosso País não melhorou o suficiente para evitar o descalabro económico que veio a provocar a ditadura do Estado Novo e se tivessem ganhado os monárquicos muito provavelmente teria acontecido algo idêntico ao que aconteceu.
Em 1974 a mudança efetuada em condições idênticas a 1910, isto é, o poder foi mais perdido por quem o detinha que ganho por quem se revoltou, trouxe ao País a liberdade que não havia tanta e melhores relações internacionais mas, do ponto de vista de gestão, houve várias crises próximas da bancarrota que deterioraram a nossa independência e se se tivesse mantido o Estado Novo com algumas alterações provavelmente a evolução não seria muto diferente do que aconteceu mas com menos liberdade.
Ora na nossa História houve outra revolução, a de 1383-85, que merece ser analisada mais profundamente pois por detrás dela está a formação do país Portugal e do cidadão português que não existiam antes de o Príncipe Afonso Henriques decidir ser Rei, para o que era indispensável criar um reino, conquistando o território a sul ocupado pelos mouros e defender-se do poder dos reis vizinhos de origem visigótica cuja tendência para a unificação era fatal.
Portanto era preciso conquistar rapidamente Lisboa, o que aconteceu e desenvolver as atividades marítimas já existentes há séculos uma vez que todo o tráfego entre o Mediterrâneo e o norte da Europa passava pela nossa costa, e dadas as características dos ventos e a pequenez das embarcações, havia enorme interação de tripulantes e habitantes dos vários portos então existentes.
Assim procederam os reis seguintes, com especial relevo D. Afonso III e D. Dinis, que muito fortaleceram a burguesia onde havia elevada percentagem de judeus originados de Alexandria onde se tinha mantido o conhecimento científico e tecnológico grego-romano que entretanto a Europa medieval tinha esquecido, sendo notável terem no cômputo geral da dinastia praticado uma gestão pró-ativa e inclusiva, como aconteceu na dinastia seguinte até à morte de D. João II. Como exemplo desta disparidade basta recordar que em Alexandria, quase dois séculos antes de Cristo, Eratóstenes havia determinado ser a terra uma esfera e qual o seu diâmetro enquanto nos finais do século XV ainda na Europa central se pensava ser a Terra uma superfície plana!
Assim quando em 1383 morre o Rei D. Fernando I deixando como herdeira a sua filha Beatriz, casada com o Rei D. João I de Castela, houve a possibilidade de este passar a ser também rei de Portugal.
Mas embora a maioria da nobreza de origem visigótica estivesse de acordo com esta solução aconteceu uma revolução suportada essencialmente pela burguesia marítima e tendo como candidato a Rei o Mestre da Ordem de Avis de nome João e filho bastardo do Rei D. Pedro I, que tendo vencido permitiu em 6 de abril de 1385 coroá-lo como D. João I.
Em primeiro lugar teve que consolidar a independência do país, com o apoio fortíssimo de D. Nuno Álvares Pereira, o que significou só ter disponibilidade para iniciar a expansão marítima em 1415 com a conquista de Ceuta quando os filhos mais velhos já participaram ativamente. Convém aqui recordar que em 1401 Afonso, Conde de Barcelos e filho bastardo de D João I, casa com Beatriz, filha de D. Nuno Álvares Pereira e dá origem ao Ducado de Bragança que vai ter enorme protagonismo na vida nacional durante e depois do século XV.
A partir de 1415 desenvolve-se ainda mais a nossa Marinha, com todas as atividades que séculos mais tarde alguém chamou um “cluster”, que permitiu ter a frota mais poderosa e o maior conhecimento geográfico de toda a Europa e assim realizar os descobrimentos marítimos, que iniciaram a expansão europeia e a globalização deixando de herança à dinastia seguinte o enorme potencial de riqueza que esta não soube aproveitar da melhor forma.
Para se poder compreender corretamente este século XV em Portugal tem que se ter em conta que praticamente a partir de 1415 ficaram em confronto duas linhas de poder político a saber: a da Casa de Avis e a da Casa de Bragança que começa a aumentar a sua influência após a morte de D. Duarte e a regência do Infante D. Pedro que acaba por ser morto em 1449 na batalha de Alfarrobeira. Entretanto os descobrimentos continuam a progredir e em 1474 D. Afonso V entrega o poder marítimo ao Príncipe D. João que durante os vinte anos seguintes realiza o que ficou descrito no parágrafo anterior, mas mais do que isso provocou a “descoberta” por Colombo das Américas onde os espanhóis se fixaram e donde mais tarde obtiveram enormes riquezas, dando o tempo preciso para Vasco da Gama ser o primeiro europeu a ligar por via marítima a Europa à Índia.
Mas se em vez do Mestre de Avis tivesse ficado o Rei de Castela as consequências disso teriam sido enormes para Portugal e para todo o mundo, pois a burguesia teria desaparecido, como desapareceu em Espanha, Portugal seria uma região espanhola, a língua portuguesa desaparecia, não teria havido os descobrimentos como houve, e só haveria bastante mais tarde, afetando o próprio movimento do Renascimento, portanto com enorme influência na História do Mundo.
A explicação do apagamento do papel de Portugal na expansão europeia, pela sua extensão não cabe no âmbito deste texto, mas fica apenas a ideia que ele foi devido à mudança radical de gestão do País para o sistema reativo e extrativo praticado pelos Reis da Casa de Bragança, que se perpetuou até hoje, e aos interesses internacionais que aproveitaram a iniciativa portuguesa para seu proveito.
No entanto em Portugal é notória a apatia dos partidos políticos e das entidades privadas quanto ao facto de não se conseguir desenvolver a Economia do Mar sem se cuidar eficazmente de restruturar a Marinha (Armada e Marinhas de Comércio, Pescas e Recreio) e dinamizar o acesso da população às atividades náuticas, como se fosse possível ter Economia do Mar sem Marinha à altura. E isto acontece num País que, tendo tido a sua época mais brilhante e produtiva baseada na excelência da sua Marinha, continua a mostrar esse desprezo até hoje, pois se assim não fosse já teria sido criado um feriado no dia 6 de abril, a data em que foi empossado o Mestre de Avis como Rei D. João I.
Lisboa, 12 de março de 2018
José Carlos Gonçalves Viana
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A História dos descobrimentos entre os cronistas e a realidade (004) (002) (1).pdf
Continua a manifestação de interesse pela economia do Mar através de artigos, muitas vezes bastante bem escritos, e de frequentes encontros e sessões, e tenho a convicção dele ter sido iniciado a partir de 2004.
Recordo-me de em 1984 tanto na Academia de Marinha como na Sociedade de Geografia de Lisboa vários profissionais ligados à Marinha ( ou seja a Armada e as Marinhas de Comércio, Pescas e Recreio) apresentaram comunicações com o objetivo de contribuir para a recuperação destas atividades que com as perturbações causadas pela revolução de 74 estavam muito reduzidas, o que, dadas as raízes da formação de Portugal e dos Portugueses, julgávamos ser essencial para o futuro do nosso País.
No entanto a reação do poder político não só não foi minimamente favorável a tal recuperação como durante o Governo de Cavaco Silva houve um ataque destruidor das iniciativas então em curso e nunca mais foram tomadas decisões pelos Órgãos de Soberania nem houve qualquer reação positiva das entidades privadas que poderiam, ou até deveriam ter tomado uma posição construtiva.
Quando foi criado um Ministério do Mar houve um momento de esperança e graças a um Diretor Geral muito competente tivemos alguns projetos em vias de serem decididos mas os Governantes então em exercício meteram tudo nas gavetas e depois passaram para a oposição e criticaram os seus sucessores por não tomarem as decisões tão necessárias.
E assim um País tão necessitado de investimentos produtivos que não precisem de depender do OGE tem muitas centenas de postos de trabalho à espera de decisão governamental e além disto não permite o acesso às atividades náuticas essenciais para desenvolver na população o interesse prático na Marinha em zonas, como por exemplo em Lisboa e no Sotavento Algarvio, onde há projetos com mais de vinte anos sem poderem ser realizados.
Temos na nossa História o exemplo de D. João II que, em menos de vinte anos nada escreveu nem deixava escrever, mas dotou Portugal da Marinha mais poderosa da Europa, descobriu todo o Oceano Atlântico e as Américas e proporcionou termos tido a primeira ligação marítima com o Oriente por Vasco da Gama e com o Brasil por Álvares Cabral.
Portanto tenhamos a esperança de que diminuam as conversas mas aumentem as decisões corretas e oportunas que permitam tirar Portugal desta apagada e triste situação.
Lisboa, 20 de agosto de 2018
O artigo “O Museu Daquilo” publicado no Expresso de 21 pp acelerou o meu interesse em tentar contribuir para o esclarecimento do facto mais importante da História de Portugal e que tão mal tratado tem sido.
Para começar não escrevi “descobrimentos marítimos portugueses” porque os únicos descobrimentos de grande porte que permitiram a expansão europeia foram os portugueses. O museu de Madrid dos “descubrimientos maritimos” começa com Colombo …
A palavra descobrimento significa a ação que permite passar a conhecer algo que era desconhecido. O ser marítimo significa ter sido realizado por navios.
Ora desde o início da existência de um País chamado Portugal, por vontade de D. Afonso Henriques, a consolidação deste novo reino implicou o desenvolvimento das atividades marítimas aproveitando o facto da costa portuguesa ser passagem obrigatória de todo o tráfego entre os povos mediterrânicos e os do norte da Europa, o que dadas as características e a pequenez dos navios então utilizados provocou a existência de vários portos ao longo da nossa costa com relevo para Lagos, Lisboa e Porto, onde de desenvolveu uma burguesia muito ativa com elevada percentagem de judeus vindos pelo norte de África e possuidores da cultura existente em Alexandria enquanto as populações do norte que constituíam a maioria da nobreza ainda tinham, tal como no centro da europa, uma cultura medieval.
Após a morte do rei D. Fernando entre as duas propostas de sucessão: a da burguesia com o Mestre de Avis como candidato e a da nobreza com o rei de Castela, venceu a primeira e assim se tornou possível o desenvolvimento da Marinha portuguesa.
O que aconteceu trinta anos depois de ser coroado como D. João I ao organizar uma frota com cerca de 200 embarcações, de grande porte para a época, sem perturbar a vida económica nacional, conquistar Ceuta e iniciar os descobrimentos marítimos ou seja passar a conhecer o oceano atlântico, isto é, as suas correntes e os seus ventos que permitissem atingir por via marítima o oriente, mais concretamente a Índia cujas riquezas eram conhecidas.
Portanto os descobrimentos marítimos obviamente portugueses, e que precederam a expansão marítima europeia de quase um século, além do oceano foram os territórios da América para onde D, João II conseguiu levar os Reis Católicos através de Colombo de forma a sermos nós os primeiros a chegar à India, e o Brasil.
O caminho para a Índia foi descoberto por Bartolomeu Dias e o Brasil foi naturalmente descoberto a partir da prática da volta da Mina com o objetivo de alargar o conhecimento dos regimes de ventos do Atlântico Sul, e mantido obviamente em segredo,
mesmo antes do Tratado de Tordesilhas, o que bate certo com a recusa de D. João II à proposta dos Reis Católicos de após a assinatura daquele tratado ir uma frota conjunta marcar a localização do respetivo Meridiano.
Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral não descobriram nada mas foram essenciais para Portugal definir a sua posse da ligação com o Oriente e do Brasil respetivamente o que não lhes tira o valor mas os descobrimentos propriamente ditos acabaram com a morte de D. João II em 1496.
A partir daqui as notáveis navegações portuguesas não foram descobertas de territórios que já eram conhecidos mas não contactados por europeus por via marítima e permitiram realizar por mar as trocas comerciais até aí dominadas pelo médio oriente e Veneza.
Portanto convém a bem da verdade que fique assente os descobrimentos marítimos portugueses terem sido realizados entre 1385 com D. João I e 1496 quando morreu D, João II e deixou a enorme herança da globalização e dos territórios que os seus herdeiros tão mal geriram e mesmo assim chegaram até 1974.
Lisboa, 26 de abril de 2018
José Carlos Gonçalves Viana
Como tenho defendido em textos já publicados, Portugal desde 1500 tem sido sistematicamente governado por detentores do poder que nunca praticaram uma gestão eficiente, o que explica o não aproveitamento das riquezas herdadas do século XV dos Descobrimentos Marítimos, a perda da independência em 1590 e a sua recuperação em 1640 apenas com boa gestão militar, a perda da revolução industrial que acarretou todo o atraso económico-social que afetou o nosso desenvolvimento até aos anos 50 do século XX, os erros fortíssimos da gestão colonial do Estado Novo que levou às guerras coloniais e assim ao descalabro sócio-económico que originou a revolução de Abril de 74.
Mas os poderes que então tomaram as rédeas da nossa governação rapidamente mostraram praticar uma gestão pouco eficiente cujos resultados estão bem à vista dadas as oportunidades perdidas, a proximidade a que estivemos de várias bancarrotas e a perda de independência económica que tem vindo a aumentar com as políticas pseudo liberais que tivemos nas últimas três décadas culminando com a ultrapassagem pela direita da “troika” e mais recentemente, para quem ainda tivesse algumas ilusões, o descalabro enorme das falhas de gestão que tantas mortes evitáveis provocaram nos incêndios de 2017 e agora a seca e os desastres no Tejo.
Portanto nós precisamos muito, e que não leve tempo a mais, de uma mudança radical e profunda na gestão que é praticada pelos Órgãos de Soberania, pela Justiça e pelas Autarquias e quando alguns responsáveis agora falam da descentralização ( e há até quem ainda fale na regionalização) como remédio para as falhas atrás indicadas, fico obviamente muito preocupado, pois não oiço nada sobre sistemas e processos de gestão a melhorar e em vez disso parece querem aumentar os poderes das Autarquias sem as corrigirem das grandes distorções das suas estruturas organizacionais
Após os incêndios houve quem clamasse pela demissão de uma Ministra, como se fosse ela a única responsável pela tragédia de tantas mortes evitáveis, esquecendo os Autarcas e os deputados que não cuidaram atempadamente pela gestão que tanto falhou.
Em particular as Autarquias que são responsáveis pela indisciplina da população que tantos desastres provoca nas estradas, pela baixa qualidade dos planos de urbanização e de proteção ambiental, pelo atraso no desenvolvimento quando não permitem o desenvolvimento náutico havendo o potencial respetivo e pela sua curta dimensão populacional da maioria delas que impossibilita a contratação de técnicos de elevada qualidade. O que me levou a publicar a sugestão de agrupar as Autarquias nos distritos ficando nelas apenas o pessoal indispensável para os contactos com os cidadãos de forma a subir o nível da gestão e diminuir as despesas fixas.
Portanto resumindo: do que nós precisamos é de melhor gestão e não de descentralização.
Como a maioria das pessoas não frequentou cursos de gestão apresento aqui um quadro resumo do que é a gestão, que em tempos utilizei em cursos de gestão eficiente, apenas chamando a atenção do leitor para a atribuições da Chefia (que corresponde aos poderes responsáveis indicados na Constituição) que não são direitos mas deveres e para os princípios fundamentais que não chegam para se atingir a eficiência mas o seu não cumprimento chega para impedir a eficiência desejável.
E já agora para notarem que a gestão é composta por treze funções e só uma é Economia-Finanças que sendo essencial não é única.
Lisboa, 22 de fevereiro de 2018
José Carlos Gonçalves Viana
GESTÃO
1 Os três pilares da vida humana: Poder Sabedoria Caridade
2 Objetivos Realização Resultados
3 Lucros / Sobrevivência / Ganância
4 Competência
4.1 Posição estratégica 4.2 Capacidades individuais
Dependência hierárquica Capacidades humanas, técnicas e experiência
Poderes de decisão
Informação recebida Atitudes adequadas ou
4.3 Princípios essenciais
1º Distinguir o fundamental do acessório
2º O primeiro fator é o pessoal
3º Haver sempre responsáveis
4º Basear-se nos pontos fortes e não nos fracos
5º Tomar decisões efetivas e oportunas
6º Libertar-se de preconceitos e ideias feitas
7º Apontar mais para os resultados que para o trabalho
5 Funções da empresa
5.1 Chefia (suas atribuições:executar,decidir,controlar,delegar,comunicar,prever,organizar,motivar,
coordenar,compreender, formar,inovar, arriscar,assumir, servir)
5.2 Pessoal
5.3 Negócio-oportunidade
5.4 Tecnologia
5.5 Economia-Finanças
5.6 Produção
5.7 Comercial: Marketing, Relações Públicas, Distribuição
5.8 Jurídica
5.9 Segurança global
5.10 Aprovisionamento
5.11 Ecologia
5.12 Política
5.13 Ética-Religião
6 Técnicas e conhecimentos ao serviço da gestão (exemplos)
Contabilidade, Informática, Matemáticas aplicadas, Psico-sociologia, Cultura geral, Ciência, Tecnologia, Economia, Finanças, Controlo de gestão, Relações internacionais, Línguas diversas em particular inglês, Etiqueta, Marketing, Fiscalidade, Direito aplicado e geral, Artes plásticas e musical, Literatura, Medicina, Biologia, praticamente tudo.
Um dos fatores que mais pesa quando se quer avaliar a importância de uma revolução é analisar o que aconteceria se o resultado dela fosse exatamente o contrário do que foi dos pontos de vista nacional e internacional.
Atualmente comemoramos três revoluções: 1 de dezembro de 1640, 5 de outubro de 1910 e 25 de abril de 1974.
Em 1640 se não tivéssemos recuperado a independência Portugal teria ficado a ser apenas uma região espanhola, a língua portuguesa teria diminuído ou até quase desaparecido e internacionalmente a Espanha ganharia poder em relação a França e Inglaterra com quem estava então em guerra.
Em 1910 a mudança de monarquia para república não teve consequências importantes do ponto de vista internacional e a gestão do nosso País não melhorou o suficiente para evitar o descalabro económico que veio a provocar a ditadura do Estado Novo e se tivessem ganhado os monárquicos muito provavelmente teria acontecido algo idêntico ao que aconteceu.
Em 1974 a mudança efetuada em condições idênticas a 1910, isto é, o poder foi mais perdido por quem o detinha que ganho por quem se revoltou, trouxe ao País a liberdade que não havia tanta e melhores relações internacionais mas, do ponto de vista de gestão, houve várias crises próximas da bancarrota que deterioraram a nossa independência e se se tivesse mantido o Estado Novo com algumas alterações provavelmente a evolução não seria muto diferente do que aconteceu mas com menos liberdade.
Ora na nossa História houve outra revolução, a de 1383-85, que merece ser analisada como se fez para as outras: tendo ganho o trono o Mestre de Avis apoiado principalmente pela burguesia ligada à atividade marítima foi desenvolvida a nossa Marinha, com toas as atividades que séculos mais tarde alguém chamou um “cluster”, que permitiu ter a frota mais poderosa e o maior conhecimento geográfico de toda a europa e assim realizar os descobrimentos que iniciaram a expansão europeia e o início da globalização e deixar de herança à dinastia seguinte o enorme potencial de riqueza que esta não soube aproveitar da melhor forma.
Mas se em vez do Mestre de Avis tivesse ficado o rei de Castela as consequências disso teriam sido enormes para Portugal e para todo o mundo pois a burguesia teria desaparecido, como desapareceu em Espanha, Portugal seria uma região como é a Andaluzia, a língua portuguesa desaparecia, não teria havido os descobrimentos como houve, e só haveria bastante mais tarde, afetando o próprio movimento do Renascimento, portanto com enorme influência na História do Mundo.
No entanto em Portugal ninguém parece conhecer estes factos que segundo julgo resultaram das políticas desenvolvidas pelo rei D. Manuel I e que até hoje foram desprezados por um País que tendo tido a sua época mais brilhante e produtiva baseada na sua Marinha continuaram esse desprezo até hoje, pois se assim não fosse já teria sido criado um feriado no dia 6 de abril que foi a data em que foi empossado o Mestre de Avis como Rei D. João I.
Lisboa, 11 de fevereiro de 2018
José Carlos Gonçalves Viana