Todos os povos ou civilizações evoluíram sempre condicionados pela atuação das suas lideranças e das interações com os outros povos e com as alterações naturais.
Sempre que esta atuação não foi a apropriada para resolver os problemas surgidos numa crise, essas civilizações extinguiram-se e foram substituídas por outra ou outras, e assim se foi fazendo a História da Humanidade.
A Europa encontra-se agora numa situação típica extrema que justifica esta abordagem.
Ao contrário do que muita gente responsável, ou melhor com responsabilidades importantes, o que não é bem o mesmo, parece pensar estamos perante uma crise estrutural e não conjuntural.
Após a guerra mundial de 39-45 o poder europeu, que havia dominado quase a totalidade da Terra, começou a diminuir sendo progressivamente superado por outros poderes em crescimento, e para resistir a este desequilíbrio, era essencial a Europa ganhar a unidade, que lhe permitiria atingir a dimensão económica indispensável, e simultaneamente ir criando condições para o entendimento entre a França e a Alemanha, cuja quebra tinha sido fortemente responsável pelas duas últimas guerras mundiais.
E isto só seria exequível se fosse gerida como um estado federal e não como um clube de boas vontades sem comando efetivo e sem objetivos claros de competitividade económica, sem a qual nunca seria possível manter o nível e a qualidade de vida conseguidos após a reconstrução do após guerra.
Chegámos pois a esta dependência, que parece total, dos chamados mercados, perante a até agora impassibilidade de um poder europeu, que teria a obrigação de sacudir de vez esta dependência, que dá a sensação de estar apontada quase exclusivamente à Europa e aos seus interesses.
A Grécia está à beira de possível bancarrota e fatal saída do euro. Os gregos têm tido um comportamento algo condenável mas não só não foram os únicos a tê-lo neste transe mas também outros países tiveram comportamentos muito pouco recomendáveis e nem por isso foram ostracizados.
E é bom recordar o facto de que se a Europa fosse uma federação a sério, a crise nunca teria atingido esta dimensão.
Portanto a verdadeira questão é esta: a Europa decide já assumir ser uma federação com um rumo de desenvolvimento e resolve de vez a dependência dos mercados, sendo assim possível tratar inteligente e eficientemente os problemas estruturais que originaram este crise, sem dicotomias de gestão inaceitáveis, como a austeridade versus o crescimento, visto que só com as duas em sintonia será possível sobreviver, ou
continua na rota em que vem vivendo há duas décadas, pelo menos, e vamos assistir ao primeiro ato da sua extinção com a saída da Grécia, que, com grande propabilidade, será imediatamente ajudada pela Rússia, e a seguir pela dos outros países mediterrânicos onde a França poderá ter um papel tão essencial como difícil, e as ligações destes países com países doutros continentes com quem sempre tiveram ligações fortes será determinante numa europa dividida e reduzida à região central.
Mas neste caso não será mais Europa, mas outra designação que defina o grupo de países agregados á Alemanha.
Pois aquela passará a ter o bloco alemão, o bloco mediterrânico (França, Itália, Espanha, Portugal e Grécia) , a Inglaterra, e outros países, agrupados ou isolados.
Se assim acontecer, os vários países que habitam o território europeu ficarão mais fracos do que seriam se fizessem parte duma Europa a sério e dificilmente poderão fazer frente aos seus concorrentes e aos especuladores que tanto os têm prejudicado, naturalmente muito ajudados pelas omissões e pelos erros políticos cometidos até agora pelos responsáveis europeus.
Publicado no DN em 15 de Junho de 2012