Quarta-feira, 25 de Julho de 2012
De cavalo para burro

Vivemos quase trinta anos, com mais rigor desde que entrámos na Comunidade Europeia, como se tivéssemos um cavalo, bom e caro, e agora quase todos os cidadãos e principalmente sindicalistas e políticos reclamam pois não aceitam passar a andar de burro. Isto de passar de cavalo para burro, nunca!


E vai daí escreverem, falarem, reunirem-se na rua a protestar contra as medidas em curso, inclusive ameaçarem fazer greves, que contribuirão fatalmente para aumentar a pobreza quer pelos seus custos, mas também, como se pode ver o que acontece na Grécia, reduzindo as receitas resultantes do turismo em geral e deles próprios também, e apenas propõem que se aceite a bancarrota, que resultará fatalmente se não conseguirmos vencer esta primeira fase da indispensável reestruturação do país pagando entretanto o que devemos.


Mas  teimam em esquecer-se que o tal cavalo bom e caro que montaram todo este tempo era pago a crédito e nunca se lembraram que era preciso produzir mais riqueza, pelo menos suficiente, para o poderem pagar.


E agora veio a fatura, porque o crédito atingiu o máximo aceitável e o poder passou para os credores, e como sempre acontece nestes casos, ou se muda de vida e se trabalha para saldar as dívidas ou se entra em bancarrota, e aí é a miséria garantida com todo o cortejo de desgraças inerentes, sabe-se lá por quanto tempo, pois criámos uma situação interna tal, que nem produzimos o suficiente para pagar a comida que tanto gostamos de ter, nem sequer a do burro com que ficámos.


E estas dificuldades, ainda por cima acrescentadas por uma crise internacional, foram essencialmente causadas por erros de gestão sucessivos e outras anomalias, imputáveis não só aos governantes mas também a muitos cidadãos, que levaram à destruição da nossa capacidade produtiva, ao aumento exageradíssimo da dependência da nossa vida económica do estado, quase sempre desprezando a avaliação do mérito em favor de compadrios políticos e pessoais, e ao atraso em que estamos no aproveitamento das nossas potencialidades reais.


Portanto agora temos que pagar o suficiente já, para voltarmos a ter o crédito, que já tivemos e que malbaratámos como é sabido, e sem o qual não poderemos crescer, isto é, acelerar o nosso desenvolvimento sustentado, de forma a voltar a montar um cavalo em vez de um burro, mas desta feita pago a pronto e podendo sustentá-lo sem pedir dinheiro emprestado.


O que passa também por reestruturarmos o nosso Estado de forma a ser mais eficiente e menos pesado no bolso dos contribuintes porque a competitividade do país e a sustentabilidade das instituições essenciais só voltará a subir, pois há muitos anos que só tem diminuído, quando este peso for muito inferior ao atual.


O que vai levar alguns anos a conseguir realizar porque este tipo de mudanças, em democracia, têm que ser lentas, isto é, não se fazem em dois ou três anos, porque afetam a Cultura mais profunda de uma população e exigem a existência de elites dominantes de elevado grau de qualidade. Tal como sucedeu na época de oiro da nossa história com D. João I, mas que não é o nosso estadio atual.


No entanto não faltam oportunidades para muitos investimentos produtivos sem recorrer ao financiamento pelo Estado mas que exigem dos Governantes decisões corretas em tempo útil o que não se tem verificado desde há muitos anos.

Será possível vermos agora acontecer esse autêntico milagre de aparecer uma elite que consiga unir as principais tendências políticas nesta mudança de Cultura e assim darmos o salto qualitativo e quantitativo que nos permita sair desta situação em que caímos, por não a ter tido durante estas últimas décadas?


Lisboa, 18 de Outubro de 2011

Nunca foi  publicado, foi só um desabafo!



publicado por JoseViana às 16:11
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Quarta-feira, 18 de Julho de 2012
Mais sedes em Espanha: Portugal será uma região ibérica?

Por um lado as notícias de cada vez haver mais empresas com atividades em Portugal terem as suas sedes em Madrid provocam preocupações independentistas em algumas personalidades agravadas ainda pelas privatizações de atividades essenciais como por exemplo a energia, as águas, transportes e outras a grupos com sedes no estrangeiro. Aliás também há grupos portugueses com sedes lá fora.


Segundo parece, porque é mais operacional, o que não é de espantar dada a fraca operacionalidade do nosso sistema governativo, que se diz ir ser agora reestruturado e também é bom não esquecer as estatizações pós 75.


Recordando a nossa história verificamos que os reis da nossa primeira dinastia logo se aperceberam de que tinham que não depender dos seus poderosos vizinhos, mais tarde aglutinados na Espanha atual. E portanto só tinham que encontrar apoios fora, o que significou a obrigatoriedade de desenvolver a Marinha e os contactos com a Inglaterra e outros países da região do canal da Mancha.


No início do século XX, após um século XIX desastroso, Portugal dependia fortemente da Inglaterra, embora o ultimato tivesse complicado as relações entre os dois países, pois várias indústrias e serviços no nosso país eram exercidos por empresas inglesas.


Estas dependências levaram o governo na época que antecedeu a II guerra mundial a preocupar-se com este problema daí resultando a nacionalização (então palavra corretamente empregada) de companhias de transportes, de comunicações e de energia em particular e o desenvolvimento da marinha mercante nacional.


Convém recordar a importância essencial para um país ser independente de as suas principais atividades estruturantes pertencerem a proprietários portugueses ou pelo menos residentes em Portugal como qualquer português.


No entanto as consequências dos erros profundos das políticas interna e ultramarina, a partir de 1961 estancaram o crescimento económico em curso, por causa da guerra colonial que esses erros provocaram, e a partir daí a riqueza nacional tem vindo a diminuir até atingir o atual nível de bancarrota à vista.


E se perdemos as antigas colónias em 1975, na verdade já o tinham sido muito antes quando os portugueses iam procurar trabalho fora, tantas vezes clandestinamente, e não lhes era permitido mudarem-se para lá como devia ser possível dentro de um mesmo país.


Assim as forças que dominaram os acontecimentos começaram por destruir grupos económicos e empresas de dimensão internacional que não só perderam muitos postos de trabalho altamente qualificados mas também nos tornaram dependentes de importações desde a indústria até à banca passando pela agricultura e alguns serviços.


Note-se que, curiosamente, são algumas dessas forças (estou a lembrar-me do PC e do PS que tanto batalharam para se fazerem as mal chamadas nacionalizações, até porque as empresas já eram portuguesas e as estrangeiras nada sofreram) que, nesta altura de dificuldades, clamam na rua a necessidade de haver empregos esquecendo-se da sua quota parte de responsabilidade na atual taxa de desemprego e nas dificuldades em o combater.


Até nem se associaram às comemorações em curso da revolução de Abril e proclamam a ida para a rua protestar contra as medidas de austeridade que em grande parte resultam dos erros e desmandos que eles próprios foram fazendo durante todos estes anos e quando se processou o maior aumento do deficit nacional de que há memória, em particular nos últimos seis anos, não se ouviram os seus protestos.


 Por que seria tal silêncio? Distração ou interesses inconfessados?


Depois da entrada na CE a destruição aumentou a Marinha foi desmantelada e utilizando as ajudas europeias criámos hábitos de vida folgada à custa de crédito fácil e desenvolvemos indústrias com baixo valor acrescentado sem qualquer preocupação generalizada de valorizar a capacidade de trabalho mas apenas o consumo.


O resultado está bem à vista: dívidas por todo o lado, uma cultura de inconsciência social insustentável mas exigente: queremos ter melhores salários mas não cuidámos da valorização, e temos energia mais cara, transportes mais caros (rodoviários em vez de ferroviários e marítimo-fluviais), mais impostos e mais inoperacionalidade que a concorrência com quem temos que competir para podermos exportar e, portanto, sobreviver.


A situação atual de voltarmos a ser um protetorado, não de um outro país mas de uma “troika”, corresponde a um nível de independência muito baixo e agravado cada vez que vendemos a estrangeiros empresas nacionais estruturantes mas não incentivamos os capitais estrangeiros em novos empreendimentos que se justifica serem deles porque deles dependem em grande parte os futuros clientes.


Em resumo: haver algumas multinacionais a mudar as suas sedes para Madrid é natural e não tão grave assim, mas vender empresas vitais e não fomentar novos investimentos e não se ter consciência das contribuições que cada um deu para a crise, isso sim, é que põe em perigo a nossa independência já tão prejudicada.

 

E que não será com festejos comemorativos que irá melhorar, mas com atividades sustentadas e competitivas praticadas por empresas com mentalidade nacional enquadradas num sistema político operacional eficiente e profundamente português.


 

Publicado no DN em 18 de Julho de 2012



publicado por JoseViana às 13:29
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