Segunda-feira, 22 de Outubro de 2012
Emprego vs preconceitos
Acabo de ver e ouvir o nosso Ministro das Finanças que por muito que haja de descontentes com a atual governação veio dar algumas notícias boas, que muitos talvez não esperassem e outras menos boas e até más ou mal explicadas que deixaram toda a gente pelo menos muito preocupada e até revoltada.

Quanto a esta revolta, por vezes legítima, muitas vezes porém é resultante de memória fraca, que como dizia um filósofo está frequentemente na origem de consciências tranquilas, pois quando por volta de 2005 e anos seguintes já eram claros os sinais do rumo catastrófico em que caminhava o mundo em geral e o nosso País em particular, não me recordo de ver aparecerem na rua a protestar contra os orçamentos do Estado, onde estavam patentes todos os desvios que foram os causadores da situação de quase bancarrota do ano passado, muitos dos que neste momento o fazem.

Com a agravante de naquela altura ter sido possível efetuar as correções aos nossos erros estruturais, sem o sofrimento generalizado dos cidadãos e sem perder soberania, como está a suceder agora.

Convém recordar que esta crise é conjuntural e estrutural e esta última é a mais difícil de tratar pois implica reestruturar sistemas organizativos e principalmente atitudes e hábitos de toda a população principalmente da camada com mais responsabilidades políticas, corporativas, económicas e sociais.

Apenas como exemplo inicial temos logo a Presidência da República com o valor de 15 139 118 euros o que comparado com valores de outros países é cerca do dobro.

A Assembleia da República com o valor de 87 964 692 que poderá ser reduzido drasticamente se houver 180 deputados e forem adotadas as mordomias, por exemplo do Parlamento sueco, e já agora normas de funcionamento que contribuam para maior eficiência legislativa e assim melhorar a nossa tão combalida competitividade, que nestas últimas décadas terá descido perto de vinte lugares no “ranking” internacional.

Daqui resultará fatalmente concluir-se a necessidade de se reduzir o número de funcionários públicos em cerca de 100 000, mas não os despedindo, pois deverão ser transferidos para atividades produtivas como por exemplo para a agricultura e para o turismo que têm capacidade de crescimento desde que se melhore substancialmente a sua gestão.

Ora para combater o desemprego só há uma solução, mesmo que isto pareça uma verdade de LaPalisse: é criar emprego produtivo e independente do Estado, que é a fonte indispensável para ter um Estado que possa cumprir os seus deveres de regulação e apoio, mas que seja eficiente de forma a não afogar os cidadãos com impostos que tanto limitam a sua competitividade.
Se olharmos para o nosso passado, digamos após 1974, é notória a existência de alguns preconceitos político-sociais que contribuíram fortemente não só para a situação de quase bancarrota em 2010 mas também dificultam agora a recuperação da nossa economia.

Com efeito achávamos que tudo o que o Estado fornece deve ser gratuito, que a Marinha era colonialista e a náutica de recreio era fascista, que o turismo era sol e praia, eliminámos algumas empresas grandes e na nossa Constituição está expressa a nossa “aversão” por este tipo de agente económico, esquecendo lamentavelmente que há várias atividades, como por exemplo ser armador da Marinha mercante, ser investidor em turismo de elevada qualidade, ou em produção de energia, ou na exploração de minérios, ou na exploração das riquezas do fundo do mar, que só empresas desta categoria as poderão exercer.

Áreas em que temos riquezas potenciais reais e importantes, mas que se não houver empresas portuguesas capacitadas para as aproveitar, isto será feito por empresas estrangeiras que extraem as riquezas aqui, mas vão ganhar o maior valor acrescentado nos seus países, ficando nós na posição de país colonizado, não por conquista do explorador mas por inépcia do conquistado.

Perante o que ouvimos ao Ministro das Finanças é urgente e forçoso ouvirmos agora o que têm para nos dizer os dois Ministros das pastas “produtivas” ainda por cima quando há projetos concretos de investimentos privados que esperam, alguns há vários anos, por uma resposta do Governo, que criariam não só milhares de postos de trabalho mas também uma mudança significativa no mercado internacional onde se verifica haver enormes dúvidas quanto à tomada de decisões indispensáveis à dinâmica empresarial.

E não menos importante uma esperança concreta nos cidadãos que assim poderão aceitar os enormes sacrifícios a que estão sujeitos temporariamente e que sem estas concretizações de desenvolvimento se tornam insuportáveis.

E ninguém venha argumentar com a necessidade de haver cautela com os assaltos possíveis de especuladores e intrujões, que é de facto essencial existir e ser aplicada com todo o rigor, porque os exemplos de projetos que foram autorizados nestes últimos 30 anos sem qualidade e que nunca deveriam tê-lo sido, chegam para que se não perca tempo, mas aconselham à revisão dos processos de decisão discricionários, escondidos e desviados que tão maus resultados têm produzido.

Lisboa, 16 de Outubro de 2012

Publicado no DN em 22 de Outubro de 2012


publicado por JoseViana às 14:29
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