O trabalho apresentado hoje no DN sobre “O estado do ambiente!” inclui um artigo sobre a barragem do Tua que me chamou a atenção para, mais uma vez, ser essencial analisar a questão que é: a gestão da água das barragens ser realizada pelos responsáveis pela energia em vez de o ser pelos responsáveis pela água.
Para começar vejamos o que se passa com essa água, o que é fácil pois ela vem da chuva que cai no nosso território.
Se nos dermos ao trabalho de analisar os registos da pluviosidade ao longo das últimas décadas pode concluir-se o seguinte:
1ºo volume de água anual é suficiente para as nossas necessidades de for devidamente capturada
2ºhá enorme irregularidade quer ao longo de cada ano quer ao longo dos anos
3ºhá também irregularidades do ponto de vista geográfico
Daqui se pode inferir que para garantir a segurança do abastecimento de água ao País terá que ser feita a sua gestão abrangendo períodos da ordem dos dez anos e nunca de dois ou três, e além disto ter mais albufeiras menores e interligadas de forma a diminuir os impactos ambientais provocados pelas grandes albufeiras e poder controlar mais eficazmente os riscos das cheias.
Com a vantagem adicional de ter albufeiras de reserva alimentadas nos períodos de elevada pluviosidade sem custos de consumo de energia.
Muitas destas barragens serão propícias para a produção de energia e para a utilização na cobertura de pontas e aqui chegamos ao ponto crítico atrás levantado: quem deve ser responsável pela gestão da água?
A água é o bem mais importante para a vida em geral e para a humana em particular e a sua origem principal é a chuva.
A energia é essencial à vida de uma sociedade mas a sua produção é possível de várias fontes a saber: combustíveis (lenha, carvão, gás natural, petróleo), eólica, solar, geotérmica, ondas e marés, hídrica (barragens), nuclear, para focar apenas as principais.
Em Portugal quanto a combustíveis os mais importantes têm que ser importados e são produtores de CO2, as ondas e marés são insignificantes, a geotérmica situada nos Açores, e ficamos aqui apenas com a eólica, com a solar, com a hídrica e a nuclear (para a qual temos matéria prima).
Ora sendo a energia um fator essencial da competitividade de um país teria sido uma prática de gestão excelente pelos responsáveis portugueses privilegiarem as fontes que nos poupassem importações o que implicaria também cuidar do ordenamento do território e dos sistemas de transportes de forma a minimizar a necessidade de utilizar combustíveis.
Curiosamente combateu-se o nuclear com base em preconceitos e pretensos cuidados ambientais mas não temos os mesmos cuidados nem com as barragens nem com o ordenamento, e os resultados vão aparecendo com a dimensão conhecida.
Com a agravante de, se alguma vez faltar a tão essencial água, os atuais responsáveis pela sua gestão não poderem ser de facto responsabilizados porque o planeamento das barragens é feito por outros, cujo objetivo é outro.
Por isso o título se justifica: será um dilema real ou “apenas” mais uma tolice?
Lisboa, 20 de Fevereiro de 2012
Publicado no DN em 15 de Março de 2012