Introdução:
Portugal necessita desenvolver novas atividades e novos negócios no sentido de promover e revitalizar a sua actividade económica, sem o que não será possível ao nosso país sair da situação de profunda recessão económica em que se encontra.
O impacto conjugado dos aspetos conhecidos – alargamento da nossa plataforma continental, a abertura do novo canal do Panamá e o crescimento das economias do Brasil e Angola – representam para o nosso país uma janela de oportunidade que não pode ser desperdiçada, para além de poderem constituir um travão importante á deslocalização da actividade económica do Atlântico para o Pacifico, a que temos vindo a assistir.
Todavia, Portugal só tirará partido das oportunidades que se lhe abrem quer no Atlântico Norte, quer no Atlântico Sul, criando por essa via uma Economia do Mar pujante, se for capaz de atrair as suas populações para o Mar, de modo a criar massa crítica, sem o que não haverá economia, do mar ou outra.
É neste aspeto que a náutica de recreio é instrumental, porque se não conseguirmos que os mais jovens estabeleçam desde tenra idade uma relação de afeto com o Mar, navegando nele e não apenas molhando os pés, estes nunca quererão ligar-se a ele, quer desportiva, quer académica ou profissionalmente, limitando a capacidade do nosso país gerar novas competências para tirar partido das oportunidades que se nos abrem.
Convém chamar a atenção para o facto de a população ter sido afastada das atividades náuticas depois de 1974 com muito poucas exceções em alguns locais, sendo diminuta a percentagem de praticantes náuticos e de que se quisermos aproveitar a sério as nossas potencialidades marítimas, que são muitas, é forçoso ter a população fortemente participante, e isto só se consegue se houver facilidades bastantes de acesso ao mar, e que não seja apenas pelas praias, como tem sido e de que é exemplo a tolice do turismo do sol e praia.
Transformação do Estuário do Tejo no maior centro de náutica de recreio da Europa
Para melhor podermos expor este tema convém recordar que há três dimensões da náutica de recreio que importa considerar:
1ª- pequenas embarcações frequentemente estacionadas em terra, inclusive em espaços privados, e que só necessitam de ter um acesso fácil à água por rampa ou grua,
2ª-embarcações de maior dimensão que já convém poderem estar em posto de amarração mas que são mais apropriadas para navegar em águas interiores e
3ª-embarcações apropriadas para navegação oceânica portanto maiores, mais caras e com maior calado e logicamente menos interessadas em navegar no interior do estuário.
Por outro lado o rio Tejo do ponto de vista de recreio tem três zonas a saber:
-o rio até aproximadamente à Azambuja, que carece de tratamento para ser navegável, que diga-se de passagem já era preocupação real nas ordenações afonsinas e manuelinas;
-o estuário interior até à barra
-e a barra
Na verdade, a capacidade de prática de atividades náuticas e de desenvolvimento da pesca artesanal e da aquacultura é enorme e permite prever a criação de alguns milhares de postos de trabalho sustentado, em grande parte utilizados na prestação de serviços a turistas vindos, em particular do norte da europa, onde durante quase metade do ano não é possível a prática destes desportos (vela, remo, pesca, etc.), ainda por cima enquadrados na rede urbana do estuário.
Além do efeito formativo da população em atividades náuticas, condição indispensável para podermos ter pessoal capacitado para as múltiplas ocupações profissionais destes empreendimentos.
Para simplificar e resumir a exposição vou limitar-me a enunciar alguns projetos, alguns deles já bem definidos, que muito contribuiriam para os objetivos indicados na introdução:
1º No rio e no mar da palha:
1.1-Aproveitamento da vala real da Azambuja e respetivo parque
1.2-Recuperação da marina do parque das nações, com expansão para zona preparada para o acesso fácil da população para número avultado de utilizadores já que é a única possibilidade de acesso ao mar dos lisboetas. Também será previsível e recomendada a construção de uma ou mais ilhas flutuantes ligadas a esta marina.
1.3-Realização do projeto apresentado em 1997 para o estabelecimento do maior porto de recreio nacional no Barreiro e respetivo desenvolvimento turístico
1.4-Aproveitamento sem uso de betão de toda a zona da margem esquerda do estuário valorizando a qualidade e não a quantidade.
1.5- Melhoramento de todas as instalações náuticas existentes
1.6-Porto de pesca e de recreio da Trafaria
2ºNa barra:
2.1- Aproveitamento do cachopo norte para a construção de uma ilha, ligada a terra por um túnel para instalar um estabelecimento 6 estrelas com marina e cerca de 100 ha com possibilidade de receber megaiates.
2.2 Aproveitamento do cachopo sul, fechando a golada e acabando de vez com os problemas da areia da Caparica e com os acidentes e desastres sistemáticos sucedidos desde a abertura da golada, com estabelecimento de 6 estrelas com marina também concebida para megaiates e cerca de 300 ha de terreno.
O facto de haver já marinas como as de Cascais e de Oeiras não só não é prejudicial a estas mas até é razão para aumentar o seu rendimento pois a navegação de recreio de alto nível precisa de ter uma dimensão bastante maior do que aquela que existe agora.
Para isso será preciso refazer os canais de circulação no Mar da Palha e no rio até à Azambuja (pelo menos) e sinalizando-os corretamente, estabelecer zonas de pesca artesanal e de pesca desportiva (sempre com devolução ao mar) e aquacultura.
Lisboa, 8 de Março de 2014
JCGonçalves Viana
Publicado na Revista de Marinha – Maio-Junho