Dada a situação difícil que o País atravessa, particularmente o crescimento muito lento do PIB e consequentemente do emprego, o aumento da dívida, o atraso na reforma do Estado e as fracas perspetivas de desenvolvimento a curto prazo, justifica-se plenamente a convocação do Conselho de Estado pelo Senhor Presidente da República para tratar certamente de melhorar as soluções que permitam diminuir as consequências da crise de todos conhecidas, tanto mais porque os dois principais partidos têm mostrado não serem capazes de se entenderem de forma eficaz.
Portanto houve nova reunião e dela foi emanado um comunicado de que li um excerto publicado no DN que dizia “Voz ativa de Portugal na União Europeia em prol do crescimento, do emprego, e da coesão, sobretudo no processo em curso da união económica, orçamental e bancária”.
Quem ler este comunicado, e não se recorde do que se passou nas duas últimas décadas, parece-lhe que a crise foi causada principalmente pelas falhas cuja correção só depende da Europa.
Mas se for possível não fazer parte daqueles que têm a consciência tranquila e que um filósofo apontou que geralmente também teriam uma memória fraca, na verdade saberiam que as principais causas da nossa crise foram: o péssimo uso dos milhares de milhões de euros enviados pela Europa, a proliferação de postos de trabalho não produtivos e dependentes do Orçamento do Estado, a realização de obras caras e muitas vezes inúteis, a incapacidade de criar postos de trabalho produtivo quer por falta de motivação dos investidores quer por indecisões do Governo e de Autarquias e por último por não ter sido realizada a indispensável reforma do Estado a que o País se comprometeu quando estava à beira da bancarrota.
Olhando para trás, isto é, para a nossa História, constata-se que sistematicamente fomos responsabilizando sempre outros de fora pelos desaires e desgraças que nos foram afligindo ao longo dos tempos: a perda da independência por culpa de Filipe II de Espanha, o atraso económico por culpa de religião e das invasões francesas, a dependência da Inglaterra e o mapa cor de rosa por culpa dos ingleses, as dificuldades após a guerra de 39-45 com os conflitos coloniais por culpa dos americanos e dos russos, e por aí fora culminando com a crise atual por culpa da Europa e dos EU.
Quando foi anunciada esta reunião do Conselho de Estado logo pensei, pelos vistos possuído de profundo otimismo, que nele se iria analisar a situação real do País e como resolver os nossos problemas internos pois se assim não acontecer e ficarmos à espera que a Europa se reorganize, o que obviamente será importante, tão cedo conseguiremos sair da mediocridade política que tanto nos aflige e sem o que, mesmo que a Europa melhore, continuaremos nesta apagada e vil tristeza em que estamos.
Mas não foi isso que aconteceu e mais uma vez caímos no velho equívoco de atirar as culpas dos nossos erros para alguém de fora e pouco ou nada fazermos pelo nosso lado para corrigirmos o rumo errado que temos seguido nestas duas últimas décadas.
E tudo isto praticado por gente eleita e não por uma ditadura como era em Abril de 74.
Lisboa, 6 de Julho de 2014
José Carlos Gonçalves Viana
Publicado no DN em 8 de Julho de 2014