No primeiro artigo desta série sobre o futuro próximo de Portugal apresentámos uma visão geral da situação e expressámos o voto de que quem vier a partir de agora a ter responsabilidades de decisão, tanto a nível do Estado e portanto dos partidos políticos que estarão no poder como das corporações e das organizações de cidadãos a quem compete defender as respetivas atividades e os seus membros, consiga corrigir os defeitos estruturais quer do ponto de vista organizacional como cultural que nos permita sair desta situação.
Hoje vamos apresentar apenas duas sugestões, porque como dizia Peter Drucker quem está no topo da pirâmide da decisão não deve tomar muitas decisões para ter sucesso mas apenas as poucas mas boas e essenciais, e realizá-las em tempo útil. Que é o que não se tem verificado.
Recordo-me de há já bastantes anos ter afirmado que se Thomas Edison tivesse nascido em Portugal nunca teria fabricado lâmpadas porque tinha que pedir uma autorização ao Governo que naturalmente lha negaria porque nem sabia o que isso era.
Durante estes anos após a intervenção exterior para evitar a bancarrota verificou-se um facto muito positivo em relação ao empresariado privado pois tem dado provas de eficiência tais que mesmo com a fraca atuação dos atores políticos vários indicadores económicos têm subido e assim podemos acalentar a esperança da indispensável retoma.
No entanto não podemos esquecer a existência permanente dum enorme excesso de despesa do Estado que continua a não ser resolvido. E sem isso nunca poderá haver retoma.
Portanto se tivermos alguém no poder que entenda quer esta situação quer a forma de a resolver, aliás com se faz em qualquer empresa nesta situação, o que tem a fazer é ir ao OGE e rubrica a rubrica, começando nos Órgãos de Soberania que são grandes gastadores e a quem compete dar bons exemplos até às Autarquias, analisar a estrutura e o valor dos seus custos e determinar quais as correções a efetuar nas estruturas e nas práticas que estejam incorretas e substitui-las por outras corretas. O que se consegue fazer utilizando consultores especializados com provas dadas em trabalhos deste tipo e desta dimensão e tomando as decisões precisas a par e passo.
Isto significa acabar com a tolice dos cortes pois o que tem que haver é reconversões de postos de trabalho improdutivos em produtivos e ao mesmo tempo agilizar a produção para que aqueles que seja preciso movimentar poderem ter oportunidades de desenvolvimento.
Não pode aceitar-se que empreendimentos criadores de muitos, por vezes milhares de postos de trabalho estejam parados em gavetas de Governantes e Autarcas e isso aconteça perante a passividade dos políticos, dos agentes corporativos e da própria comunicação social.
Assim seja com o poder que vai ficar definido nas próximas eleições que diga-se de passagem, conviria muito em nome do progresso do País que fossem realizadas em tempo próprio e não com os prazos disparatadamente longos a reduzir, de forma a termos já nos finais de 2015 corrigido o atual rumo para a próxima bancarrota.
E bastam duas sugestões e vontade.
Lisboa, 12 de Outubro de 2014
José Carlos Gonçalves Viana
No Expresso de 11 de Outubro vem uma entrevista com o Presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) que mereceu este meu comentário pois reflete a continuação de um grande equívoco do nosso turismo, e que existe pelo menos desde o momento em que me iniciei nas lides turísticas ou seja em 1973, que consiste em confundir turismo com hotelaria.
Na verdade a hotelaria é essencial para um turismo próspero mas este tem outras componentes igualmente essenciais e que continuam a ser esquecidas ou menos bem tratadas.
Para que os leitores menos especializados neste assunto possam entender este texto convém recordar a definição de turismo que perfilho e que é a seguinte: atividade económica sistémica e global em que o produto vendido em vez de ser enviado ao cliente é fornecido quando este o vem receber.
Daqui se dever definir em que consiste o produto turístico pois é este que tem que motivar o cliente a adquiri-lo e é o seu nível que define também o respetivo tipo desse cliente e portanto qual a estratégia para o motivar.
Durante muitos anos desenvolveu-se o turismo do sol e praia, que se revelou uma tolice tremenda com enormes taxas de sazonalidade, uma elevada percentagem de turistas de baixo nível económico e que deu origem ao desenvolvimento de imobiliário de baixa qualidade ambiental e de economia pois o cliente a privilegiar será aquele que maior valor acrescentado proporciona e que não se limita aos banhos de mar.
Ultimamente verifica-se ter havido francas melhorias na qualidade do nosso produto turístico como foi o desenvolvimento do golfe e de empreendimentos mais apelativos mas ainda há muito a fazer particularmente numa área de atividade em que Portugal tem grande potencial mas que quer o Estado, seja ele o Governo ou as Autarquias, quer as Corporações interessadas, continuam paradas embora com isso estejam a protelar a criação de alguns milhares de postos de trabalho a curto prazo e a comprometer o desenvolvimento do País a longo prazo.
Refiro-me à Marinha de Recreio que por um lado ter esse potencial turístico desaproveitado, particularmente no estuário do Tejo e no Sotavento Algarvio e por outro o potencial educativo pois não havendo uma percentagem elevada de praticantes náuticos na população jamais poderemos restaurar a nossa Marinha e sem Marinha seremos sempre periféricos e dependentes, como a História ensina a quem a conhece.
Portanto resta-nos esperar que os responsáveis pelas decisões necessárias as tomem e as realizem em vez de proliferarem os colóquios e as reuniões enquanto quase nada do que é essencial decidir acontece, mas os que não têm trabalho e os que estão ainda a estudar sem esperança de não ter que emigrar deveriam estar presentes no seu pensamento.
E se algum deles disser que tem a sua consciência tranquila o único comentário a fazer é uma máxima antiga que dizia ter uma consciência tranquila quase sempre o resultado de ter uma memória fraca.
Lisboa, 12 de Outubro de 2014
José Carlos Gonçalves Viana