Como tenho defendido em textos já publicados, Portugal desde 1500 tem sido sistematicamente governado por detentores do poder que nunca praticaram uma gestão eficiente, o que explica o não aproveitamento das riquezas herdadas do século XV dos Descobrimentos Marítimos, a perda da independência em 1590 e a sua recuperação em 1640 apenas com boa gestão militar, a perda da revolução industrial que acarretou todo o atraso económico-social que afetou o nosso desenvolvimento até aos anos 50 do século XX, os erros fortíssimos da gestão colonial do Estado Novo que levou às guerras coloniais e assim ao descalabro sócio-económico que originou a revolução de Abril de 74.
Mas os poderes que então tomaram as rédeas da nossa governação rapidamente mostraram praticar uma gestão pouco eficiente cujos resultados estão bem à vista dadas as oportunidades perdidas, a proximidade a que estivemos de várias bancarrotas e a perda de independência económica que tem vindo a aumentar com as políticas pseudo liberais que tivemos nas últimas três décadas culminando com a ultrapassagem pela direita da “troika” e mais recentemente, para quem ainda tivesse algumas ilusões, o descalabro enorme das falhas de gestão que tantas mortes evitáveis provocaram nos incêndios de 2017 e agora a seca e os desastres no Tejo.
Portanto nós precisamos muito, e que não leve tempo a mais, de uma mudança radical e profunda na gestão que é praticada pelos Órgãos de Soberania, pela Justiça e pelas Autarquias e quando alguns responsáveis agora falam da descentralização ( e há até quem ainda fale na regionalização) como remédio para as falhas atrás indicadas, fico obviamente muito preocupado, pois não oiço nada sobre sistemas e processos de gestão a melhorar e em vez disso parece querem aumentar os poderes das Autarquias sem as corrigirem das grandes distorções das suas estruturas organizacionais
Após os incêndios houve quem clamasse pela demissão de uma Ministra, como se fosse ela a única responsável pela tragédia de tantas mortes evitáveis, esquecendo os Autarcas e os deputados que não cuidaram atempadamente pela gestão que tanto falhou.
Em particular as Autarquias que são responsáveis pela indisciplina da população que tantos desastres provoca nas estradas, pela baixa qualidade dos planos de urbanização e de proteção ambiental, pelo atraso no desenvolvimento quando não permitem o desenvolvimento náutico havendo o potencial respetivo e pela sua curta dimensão populacional da maioria delas que impossibilita a contratação de técnicos de elevada qualidade. O que me levou a publicar a sugestão de agrupar as Autarquias nos distritos ficando nelas apenas o pessoal indispensável para os contactos com os cidadãos de forma a subir o nível da gestão e diminuir as despesas fixas.
Portanto resumindo: do que nós precisamos é de melhor gestão e não de descentralização.
Como a maioria das pessoas não frequentou cursos de gestão apresento aqui um quadro resumo do que é a gestão, que em tempos utilizei em cursos de gestão eficiente, apenas chamando a atenção do leitor para a atribuições da Chefia (que corresponde aos poderes responsáveis indicados na Constituição) que não são direitos mas deveres e para os princípios fundamentais que não chegam para se atingir a eficiência mas o seu não cumprimento chega para impedir a eficiência desejável.
E já agora para notarem que a gestão é composta por treze funções e só uma é Economia-Finanças que sendo essencial não é única.
Lisboa, 22 de fevereiro de 2018
José Carlos Gonçalves Viana
GESTÃO
1 Os três pilares da vida humana: Poder Sabedoria Caridade
2 Objetivos Realização Resultados
3 Lucros / Sobrevivência / Ganância
4 Competência
4.1 Posição estratégica 4.2 Capacidades individuais
Dependência hierárquica Capacidades humanas, técnicas e experiência
Poderes de decisão
Informação recebida Atitudes adequadas ou
4.3 Princípios essenciais
1º Distinguir o fundamental do acessório
2º O primeiro fator é o pessoal
3º Haver sempre responsáveis
4º Basear-se nos pontos fortes e não nos fracos
5º Tomar decisões efetivas e oportunas
6º Libertar-se de preconceitos e ideias feitas
7º Apontar mais para os resultados que para o trabalho
5 Funções da empresa
5.1 Chefia (suas atribuições:executar,decidir,controlar,delegar,comunicar,prever,organizar,motivar,
coordenar,compreender, formar,inovar, arriscar,assumir, servir)
5.2 Pessoal
5.3 Negócio-oportunidade
5.4 Tecnologia
5.5 Economia-Finanças
5.6 Produção
5.7 Comercial: Marketing, Relações Públicas, Distribuição
5.8 Jurídica
5.9 Segurança global
5.10 Aprovisionamento
5.11 Ecologia
5.12 Política
5.13 Ética-Religião
6 Técnicas e conhecimentos ao serviço da gestão (exemplos)
Contabilidade, Informática, Matemáticas aplicadas, Psico-sociologia, Cultura geral, Ciência, Tecnologia, Economia, Finanças, Controlo de gestão, Relações internacionais, Línguas diversas em particular inglês, Etiqueta, Marketing, Fiscalidade, Direito aplicado e geral, Artes plásticas e musical, Literatura, Medicina, Biologia, praticamente tudo.
Um dos fatores que mais pesa quando se quer avaliar a importância de uma revolução é analisar o que aconteceria se o resultado dela fosse exatamente o contrário do que foi dos pontos de vista nacional e internacional.
Atualmente comemoramos três revoluções: 1 de dezembro de 1640, 5 de outubro de 1910 e 25 de abril de 1974.
Em 1640 se não tivéssemos recuperado a independência Portugal teria ficado a ser apenas uma região espanhola, a língua portuguesa teria diminuído ou até quase desaparecido e internacionalmente a Espanha ganharia poder em relação a França e Inglaterra com quem estava então em guerra.
Em 1910 a mudança de monarquia para república não teve consequências importantes do ponto de vista internacional e a gestão do nosso País não melhorou o suficiente para evitar o descalabro económico que veio a provocar a ditadura do Estado Novo e se tivessem ganhado os monárquicos muito provavelmente teria acontecido algo idêntico ao que aconteceu.
Em 1974 a mudança efetuada em condições idênticas a 1910, isto é, o poder foi mais perdido por quem o detinha que ganho por quem se revoltou, trouxe ao País a liberdade que não havia tanta e melhores relações internacionais mas, do ponto de vista de gestão, houve várias crises próximas da bancarrota que deterioraram a nossa independência e se se tivesse mantido o Estado Novo com algumas alterações provavelmente a evolução não seria muto diferente do que aconteceu mas com menos liberdade.
Ora na nossa História houve outra revolução, a de 1383-85, que merece ser analisada como se fez para as outras: tendo ganho o trono o Mestre de Avis apoiado principalmente pela burguesia ligada à atividade marítima foi desenvolvida a nossa Marinha, com toas as atividades que séculos mais tarde alguém chamou um “cluster”, que permitiu ter a frota mais poderosa e o maior conhecimento geográfico de toda a europa e assim realizar os descobrimentos que iniciaram a expansão europeia e o início da globalização e deixar de herança à dinastia seguinte o enorme potencial de riqueza que esta não soube aproveitar da melhor forma.
Mas se em vez do Mestre de Avis tivesse ficado o rei de Castela as consequências disso teriam sido enormes para Portugal e para todo o mundo pois a burguesia teria desaparecido, como desapareceu em Espanha, Portugal seria uma região como é a Andaluzia, a língua portuguesa desaparecia, não teria havido os descobrimentos como houve, e só haveria bastante mais tarde, afetando o próprio movimento do Renascimento, portanto com enorme influência na História do Mundo.
No entanto em Portugal ninguém parece conhecer estes factos que segundo julgo resultaram das políticas desenvolvidas pelo rei D. Manuel I e que até hoje foram desprezados por um País que tendo tido a sua época mais brilhante e produtiva baseada na sua Marinha continuaram esse desprezo até hoje, pois se assim não fosse já teria sido criado um feriado no dia 6 de abril que foi a data em que foi empossado o Mestre de Avis como Rei D. João I.
Lisboa, 11 de fevereiro de 2018
José Carlos Gonçalves Viana
No último Expresso vinha um artigo intitulado “Economia do mar precisa de 160 mil trabalhadores” de acordo com um estudo realizado pela PWC e também li recentemente que a Armada tem falta de candidatos para os seus quadros de marinheiros.
Será que este problema é recente? Não é.
Para quem está há mais de quarenta anos a lutar pela recuperação da nossa Marinha, com o pouco sucesso que aquelas notícias mostram, a questão é mais profunda pois o desinteresse pelas atividades marítimas verificou-se logo a seguir à revolução de Abril de 74 em parte porque a Marinha Mercante era considerada colonialista porque tinha sido desenvolvida a partir de 1945 baseada no tráfego colonial e a náutica de recreio era considerada fascista porque estava conotada como atividade típica de ricos.
Além disto as condições do enquadramento legal e operacional da nossa Marinha Mercante era de tal forma penalizante que não era minimamente incentivador ao investimento e à operação.
A acrescentar a isto, como a maioria dos nossos historiadores é pouco versada em navegação, na História dos nossos descobrimentos a maioria da nossa população não apreendeu a importância da nossa Marinha (entendendo-se como o conjunto da Armada e das Marinhas de Comércio, de Pescas e de Recreio, esta só recentemente) no desenvolvimento do cidadão português que não existia antes de Afonso Henriques e que só ficou consolidado após D. João I ter iniciado o seu reinado e ter permitido realizar os descobrimentos marítimos que só foram possíveis porque Portugal era o país europeu com a melhor Marinha e o mais desenvolvido conhecimento geográfico e cartográfico.
Mas como falhámos a revolução industrial no século XIX deixámos de ter Marinha de Comércio e quase não tínhamos Armada, quando se deu a guerra de 39-45 tivemos grandes dificuldades no abastecimento de carvão de tal forma que em 45 foi decidido ter marinha de Comércio baseada nas Colónias, mas em 74 já tínhamos linhas como terceira bandeira e o Funchal a fazer cruzeiros na Europa e no Brasil.
Marinha de Pesca tínhamos a nacional, pois a do bacalhau estava fortemente prejudicada pela estruturação da pesca internacional, a precisar de ser reformulada com vista à futura entrada na CE o que acabou por nunca ter sido realizado por razões pouco claras o que prejudicou fortemente este setor.
Até à década de 50 havia muitas embarcações no Tejo, por exemplo, pois as populações ribeirinhas particularmente na margem sul não tinham outro meio de deslocação e assim haveria mais de 35000 pequenas embarcações além das maiores que ligavam os navios de carga aos cais e entre estes. Com a construção das pontes e das estradas desapareceram quase todas pois veio ao de cima que eram usadas por necessidade e não por recreio.
Entretanto foram construídas algumas marinas o que foi excelente mas o custo da sua utilização não pode ser baixo e portanto como em toda a zona de Lisboa não há quaisquer facilidades para quem tenha menos posses poder praticar náutica de recreio, a maioria dos nossos jovens não tem vivência nestas atividades. Aliás basta olhar para o vazio do nosso mar da Palha para se perceber a tolice dos nossos responsáveis por esta situação e que são vários, pois entre nós nunca há um único responsável seja pelo que for pois assim às vezes quando tudo calha bem lá sai uma medalha mas quando calha mal nada acontece.
Aliás também o Sotavento Algarvio que tem enorme potencial náutico de recreio nunca se desenvolveu porque as decisões são tomadas no Barlavento onde quem manda não quer concorrência.
E note-se que recreio não é apenas passear ao domingo mas tem elevada capacidade de produzir riqueza em turismo de alto valor acrescentado como é exemplo a Flórida mas que os nossos responsáveis pelo Turismo parece ainda não conhecerem.
Assim com este panorama de desinteresse transversal e generalizado pela Marinha como ficar espantado com a falta de candidatos a marinheiro?
Lisboa, 06 de fevereiro de 2018
José Carlos Gonçalves Viana