No momento em que os partidos políticos principais responsáveis por grande parte da crise, que tendo iniciado o seu percurso com a nossa entrada na CE, atingiu o seu ponto de rutura quando, para não cairmos em bancarrota, tivemos que ficar tutelados pela Troika, não apresentam ao País uma estratégia convincente de recuperação, julgo ser oportuno apresentar este comentário.
Para começar convém recordar que a principal causa desta crise, além de outras causas de origem externa, foi o desequilíbrio entre o que gastámos e o que produzimos, o que pode ser apresentado de duas formas diferentes, correspondentes a atitudes também diferentes, a saber:
1ª gastámos mais do que produzimos
2ªproduzimos menos do que gastámos
Aparentemente é a mesma coisa mas na verdade são totalmente diferentes quanto às medidas corretivas que é necessário utilizar para resolver os problemas criados pela dita crise.
Com efeito na primeira reduzem-se as despesas, prejudicando o bom nome da virtude da austeridade, e pouco se faz para aumentar a produção, o que significa empobrecer o País e a população, e atrasar a recuperação.
Na segunda, embora também se deva ir reduzindo as despesas improdutivas, dá-se maior ênfase à produção que obrigará a desenvolver uma dinâmica que abranja toda a população desde o cidadão até às maiores empresas.
Isto implica corrigir os procedimentos quer do Governo quer das Autarquias não esquecendo as organizações empresariais e sindicais que se deverão todos entender no sentido de dinamizar o investimento produtivo para o que se devem procurar todas as potencialidades, evitando questões secundárias e cumprindo o princípio fundamental da gestão eficiente de distinguir o essencial do acessório.
E ter a noção de que a estratégia que é necessário definir não pode ficar por um orçamento correto, que é essencial mas totalmente insuficiente, para Portugal poder voltar a ser independente, tal como está explícito na Constituição, falha esta a que lamentavelmente ninguém parece dar valor.
Para se elaborar uma estratégia global nacional é indispensável recordar que Afonso Henriques ao fundar Portugal ainda não havia portugueses mas apenas populações variadas que habitavam nesse território sem características comuns que seriam desenvolvidas durante a primeira dinastia criando assim este povo português. E como para poder ser independente o país teve que desenvolver a sua Marinha de forma a equilibrar os poderes dos seus vizinhos passou a existir uma relação fortíssima entre eles: povo e marinha, que permitiu durante o século XV sermos a maior potência naval da Europa e a ponta de lança da sua expansão.
A partir do início do século XIX ficámos sem marinha e sem independência que só teve melhoras de 1945 a 1974, em que tivemos Marinha, voltando à situação de dependência em que o nível mais baixo foi atingido em 2011.
O que se tem passado corresponde à primeira atitude em que a dinamização da produção além de ser demasiadamente débil tem sido acompanhada de inércia indesculpável da parte dos vários Órgãos de Soberania e Autarcas, que guardam nas suas gavetas as decisões respeitantes a projetos que criariam em pouco tempo alguns milhares de postos de trabalho e à otimização das suas estruturas exageradamente caras.
Tudo isto perante a passividade das entidades corporativas, entretidas a discutir se o salário mínimo deve ou não ser aumentado, ou criticando a pretensa falta de solidariedade da Europa sem explicarem o que aconteceu aos mais de 90 000 milhões de euros que ela enviou para nos ajudar a entrar nela.
Tudo isto perante a passividade dos ocupantes dos lugares de chefia do Estado e da Empresas a quem compete não só tomar as decisões essenciais mas também dar os melhores exemplos de austeridade e eficiência e assim influenciarem toda a população para o mal e não para o bem.
Esquecendo como motivar os investidores a investirem cá em vez de o fazerem no estrangeiro e evitar vender a estrangeiros empresas essenciais à nossa independência.
Entretanto é raro vermos na comunicação social qualquer amostra mesmo pequena de dinamização da produção e parece ninguém entre os mais responsáveis se importar com este facto, embora discutam abundantemente questões ideológicas e com pouco ou nenhum interesse prático para se criarem os postos de trabalho essenciais para que deixe de haver tantos desempregados.
E para pagar as dívidas que criámos, sem nos desculparmos com outros, como foi tradição desde o século XVI, mas remodelando toda a organização do nosso País para que se não repitam os erros e os desmandos praticados durante as últimas décadas.
Lisboa, 20 de Maio de 2014
José Carlos Gonçalves Viana